O que você alimenta quando se alimenta?

 

Almoço: Na entrada, glifosato de sódio, para a refeição principal, um pouco de beta-caroteno com dióxido de silício e glutamato monossódico. De sobremesa, bicarbonato de sódio misturado com glúten. Para beber, pode ser o ácido ascórbico com INS ou tradicional INS 338. Isto tudo com uma pitada de sabor e essência artificial.

OU SEJA: salada para entrada, macarrão como prato principal, biscoito wafer para a sobremesa e suco de uva pronto ou um copo de refrigerante para beber.

banksy7Crédito: Banksy.

Desde tempos que qualquer espaço-tempo, neste nosso perambular da vida cotidiana, tornou-se um possível espaço de debate sobre questões envolvidas com a alimentação. Questionando diariamente o alimentar-se, está aí uma pergunta transformadora, capaz de nortear e redefinir este ato, banalizado e engolido pela relação fast food-take away em que estamos submetidos a viver: o que você alimenta quando se alimenta?

Você sabe que efeito o alimento que consome tem em seu organismo? Onde e como são produzidos, quais e quantas pessoas estão envolvidas na produção, circulação e comércio destes? Como é distribuído o dinheiro que tu paga por esse alimento? Quais impactos sua produção tem na terra, animais e seres humanos?

Desde as origens caravelescas da globalização, a alimentação passa por processos de homogeneização. O que isso significa? Significa dizer que perdemos e continuamos a perder diversidade alimentar. A dieta baseada no cardápio das grandes indústrias, que detém o controle dos gostos e hábitos de consumo em escala mundial, trouxe consequências em todas as esferas da vida dos indivíduos. Vivemos em um mundo de poucos gostos e texturas, onde a relação básica e intrínseca entre alimentação e a agricultura se perdeu, fruto de muita propaganda de margarina.

Em um momento em que aceitamos, mergulhados numa profunda alienação, ingerir isopor, engolir diariamente doses poderosas de produtos sintéticos em embalagens coloridas, faz-se importante e necessária a reflexão sobre o que está por trás das grandes prateleiras de supermercados.

A pergunta ali no título nos coloca como agentes com potencial de transformação dentro deste quadro em que os fios de elementos que abastecem os centros de distribuição de alimentos são esquecidos e marginalizados.

A relação invisibilizada entre a produção agrícola e o consumo de alimentos existe, e tem de ser relembrada e transformada.

Afinal, interessa a quem uma dieta reduzida a três principais grãos (trigo, milho, arroz), alcool, açúcar, senão a quem produz, na forma como se produz? O monopólio da diversidade e dos sistemas de cultivo agrícola por todo o mundo está no cerne do modelo alimentar a que estamos submetidos atualmente, sob o controle de empresas multinacionais e governos irresponsáveis, responsáveis pela padronização dos sabores, pelos processos de desempoderamento e abandono no campo, e pela catástrofe ambiental e fundiária que presenciamos.

Comer é um ato político!

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